No discurso anual ao Corpo Diplomático, o Papa Francisco pediu respeito pela liberdade religiosa e denunciou, uma vez mais, a perseguição dos cristãos, nomeadamente em África.
“Dói constatar como continuam, particularmente no Burquina Faso, Mali, Níger e Nigéria, episódios de violência contra pessoas inocentes, entre as quais muitos cristãos perseguidos e mortos pela sua fidelidade ao Evangelho”, disse ontem o Santo Padre no encontro de apresentação de cumprimentos de Ano Novo perante diplomatas oriundos de mais de 180 países.
A par da questão da perseguição religiosa contra as comunidades cristãs, o Papa Francisco manifestou também a sua preocupação perante “o flagelo do terrorismo”. Sobre isso, o Santo Padre pediu mesmo os esforços da comunidade internacional para auxiliar os países que estão empenhados” nessa batalha contra o terrorismo “que está a cobrir de sangue partes cada vez mais extensas da África, bem como outras regiões do mundo”.
Estes dois temas – a liberdade religiosa e o drama do terrorismo – estiveram presentes em vários momentos da intervenção de Francisco em que recordou algumas das viagens que realizou no ano passado.
A propósito de uma delas, aos Emirados Árabes Unidos, em Fevereiro de 2019, na qual assinou um documento com o grande imã de Al-Azha sobre a ‘Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da convivência comum’, o Papa afirmou ser necessário “condenar firmemente o uso do nome de Deus para justificar actos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão”.
Para “a mútua compreensão entre cristãos e muçulmanos”, o Santo Padre defendeu que tem de ser “respeitada a liberdade religiosa e se trabalhe para renunciar ao uso discriminatório do termo ‘minorias’, que traz consigo as sementes da sensação de isolamento e inferioridade e prepara o terreno para as hostilidades e a discórdia, discriminando os cidadãos com base na sua pertença religiosa”.
Para isso – acrescentou –, “é particularmente importante formar as gerações futuras no diálogo inter-religioso, como via mestra para o conhecimento, a compreensão e o apoio mútuo entre membros de diferentes religiões”.
Ao longo da intervenção, de quase uma hora, o Papa Francisco passou ainda em revista países que visitou no ano passado e alguns dos lugares do mundo que atravessam situações mais inquietantes. Falou na República do Congo e na República Centro-Africana, Burkina Faso e Angola, a propósito dos acordos assinados ou ratificados em 2019 com a Santa Sé, e lembrou a visita ao Panamá a propósito da Jornada Mundial da Juventude.
Referiu a visita a Marrocos onde assinou um “apelo conjunto” com o Rei Mohammed VI sobre Jerusalém, como “cidade amada pelos fiéis das três religiões monoteístas”, e focou a instabilidade que continua a viver-se no Médio Oriente.
Lembrou que “é particularmente urgente encontrar soluções adequadas e clarividentes que permitam ao querido povo sírio, exausto da guerra, encontrar a paz e começar a reconstrução do país”, e referiu o mais recente foco de tensão entre Irão e Estados Unidos, que pode “criar as bases de um conflito de mais vasta escala que todos quereríamos poder esconjurar”, e que “arrisca, antes de tudo”, a colocar em causa “o lento processo de reconstrução do Iraque”.
Francisco falou ainda do Iémen, que “vive uma das mais graves crises humanitárias da história recente, num clima de indiferença geral da Comunidade Internacional”, e a Líbia, que está a experimentar uma nova “escalada de violência nos últimos dias”.
Nesta viagem por alguns dos pontos mais inquietantes no mapa-mundo, o Santo Padre recordou, perante os embaixadores creditados na Santa Sé, que o “Mar Mediterrâneo permanece um grande cemitério”, e lembrou por fim o trigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim, que “permanece emblemático duma cultura da divisão que afasta as pessoas umas das outras e abre caminho ao extremismo e à violência”.