Síria: “Há cristãos retidos” na região de Idlib que “nunca mais contactaram com as famílias”, denuncia religiosa portuguesa

Os combates que se têm verificado nas últimas semanas na região de Iblid, no noroeste da Síria, estão a preocupar as famílias e amigos dos cristãos que residem nesta província que em parte está ainda sob controlo de grupos extremistas.

A situação é muito complexa pois além do exército sírio, que está a ser apoiado por forças russas, a Turquia também posicionou unidades militares nesta região fronteiriça entre os dois países. Desde Qara, onde vive no mosteiro de São Tiago Mutilado, a Irmã Maria Lúcia Ferreira afirma que esta “é uma situação que pode explodir a todo o momento” e afirma que até nos arredores da cidade de Aleppo tem havido incidentes. “Os terroristas que estão na região fronteirça com Idlib estão a lançar ataques para a zona de Alepo.”

Mais preocupante – afirma esta religiosa que pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, e que é conhecida como Irmã Myri –, é a situação de três vilas habitadas por cristãos na região de Idlib.

Diz a irmã, citando uma senhora oriunda de Damasco e que passou recentemente pelo mosteiro de Qara, que “há cristãos que estão retidos” nesta província, “e que nunca mais puderam sair nem ter contacto com as famílias desde que os terroristas ocuparam [a região] há seis ou sete anos”. A referida senhora confidenciou que a sua mãe “está lá”, numa dessas vilas, e o agravamento da situação humanitária preocupa-a sobremaneira. “Rezem por ela, rezem por eles”, pediu às irmãs.

Na mensagem gravada enviada para a Fundação AIS em Lisboa, a irmã Maria Lúcia Ferreira refere três vilas habitadas por cristãos: Jdaye, Qunaya e Yacubieyh, situando-as perto da cidade de Jaisr al-Shughur.

A ofensiva militar contra redutos jihadistas em Idlib está, de facto, a afectar toda a região. A Irmã Myri afirma que “não são só estas vilas cristãs que estão em dificuldades. Também há vilas xiitas que têm a mesma sorte e que têm sido extremamente bombardeadas”.

Síria: “Há cristãos retidos” na região de Idlib que “nunca mais contactaram com as famílias”, denuncia religiosa portuguesa.
Síria: “Há cristãos retidos” na região de Idlib que “nunca mais contactaram com as famílias”, denuncia religiosa portuguesa.

As movimentações militares nesta região estão a alarmar as populações e a provocar um êxodo enorme, que se calcula ultrapasse já as 550 mil pessoas, agudizando a crise humanitária neste país que em Março entra no décimo ano consecutivo de guerra.

Ainda ontem, domingo, o Papa Francisco manifestou a sua preocupação por esta nova escalada militar. “Continuam a chegar notícias dolorosas do noroeste da Síria, em particular sobre as condições de tantas mulheres e crianças, das pessoas obrigadas a fugir”, disse o Santo Padre perante milhares de fiéis na Praça de São Pedro que rezaram, depois, uma Ave-Maria pela “amada e martirizada Síria”.

De facto, esta é uma situação muito grave do ponto de vista humanitário. O porta-voz do gabinete dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas, David Swanson, afirmou, há cerca de uma semana, que “esta última vaga de deslocados” é agravada por uma situação humanitária que já é desastrosa”, e que está a causar “um sofrimento injustificável a centenas de milhares de pessoas que vivem na zona” de Idlib.

Esta ofensiva militar tem como objectivo a reconquista total do território, pois é precisamente na região nordeste, que corresponde às províncias de Idlib e Hama, que existe a maior bolsa de resistência dominada por grupos extremistas islâmicos.

A guerra na Síria já causou mais de 380 mil mortos e vários milhões de refugiados e de deslocados internos. Este foco de violência no nordeste do país vem centrar também a atenção para a situação profundamente vulnerável em que se encontram as crianças sírias.

Segundo dados da Unicef, mais de 300 mil crianças foram deslocados das casas e dos bairros onde viviam só desde Dezembro, sendo que, cerca de 1,2 milhões estão numa situação considerada de extrema vulnerabilidade.

A Fundação AIS tem em marcha diversos projectos de assistência humanitária para as populações mais carenciadas da Síria, nomeadamente as crianças. Exemplo disso é a campanha “Uma Gota de Leite” que tem merecido um extraordinário acolhimento por parte dos benfeitores portugueses da Ajuda à Igreja que Sofre.

 Oriente Médio.
Oriente Médio.

Promovido pelo Centro de Desenvolvimento Social na Arquidiocese Ortodoxa em Homs, o projecto “Uma Gota de Leite” destina-se a apoiar a alimentação de crianças oriundas de famílias mais carentes que vivem em Homs, Hama e Damasco.

Esta iniciativa abrange 298 crianças dos 0 aos 6 meses; 850 crianças de 7 meses a 1 ano; e 5.795 crianças até 10 anos de idade. A Fundação AIS pagou 266 mil euros pela distribuição de leite durante 6 meses.

Portugal tem sido dos países mais activos em relação a esta campanha. Catarina Martins de Bettencourt, directora do secretariado português da Fundação AIS já afirmou, em diversas ocasiões, que “o apoio que os portugueses têm dado a esta campanha é extraordinário e até comovente”.

“Desde que lançámos este projecto – diz ainda a responsável da AIS em Portugal – é raro o dia em que não recebemos algum donativo. Por isso não me canso de agradecer toda esta ajuda pedindo, a todos, para que esta chama de solidariedade para com as crianças sírias não esmoreça.”

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